Tudo começou em meados dos anos 2000, quando comecei a frequentar a igreja... Uma família norte-americana estava a frente dos trabalhos com a igreja, e essa família estava na terceira geração de homeschoolers. Como eu era bem jovem e tudo era novidade para mim, isso não chamou tanto minha atenção, na minha cabeça eles não mandavam os filhos para a escola porque queriam que as crianças aprendessem em inglês... E também porque queriam manter os filhos em "uma bolha" (que bobinha eu hehehe), mas como não era um assunto meu eu não pensava muito sobre isso.
Em 2007 eu me casei, e, meu marido que também frequentava a igreja tinha uma visão semelhante a minha (eu acho) na verdade não lembro de conversarmos sobre o assunto, simplesmente não nos chamava a atenção. Nesse mesmo ano eu comecei a cursar Pedagogia na faculdade. Optei por esse curso porque nos últimos anos eu vinha trabalhando no ministério infantil de minha igreja e descobri que gostava muito de ensinar crianças.
A medida que o anos foram passando eu comecei a achar interessante esse "negócio de homeschool", porque eu acompanhei através do ministério infantil tanto as crianças que frequentavam a escola, como as crianças homeschoolers e eles foram crescendo diante dos meus olhos, se tornando pré-adolescentes e o que me chamava atenção é que no quesito interação as crianças homeschoolers tinham muitas vezes até mais facilidade que aquelas que frequentavam a escola. E no quesito aprendizagem também... Achava interessante. Mas não ao ponto de me interessar pelo assunto.
Nesse período, um amigo que também frequentava a igreja estava se formando em Pedagogia, como ele estava bem mais próximo que eu dessas famílias ele despertou para o tema e resolveu fazer o TCC dele nessa área de homeschool. Achei interessante, na época ele criou blogs nos quais ele abordava o assunto, eu lia algumas postagens esporadicamente, e, achava interessante a forma como ele abordava o assunto, mas ainda não ao ponto de despertar para o tema. Lendo as postagens dele, descobri que muitos brasileiros faziam educação domiciliar, e que, não havia um perfil homogêneo das famílias praticantes.
Comecei o curso de pedagogia com o objetivo de trabalhar com os anos iniciais do ensino fundamental, sempre gostei de trabalhar com crianças maiorzinhas. Mas os primeiros anos do curso abordava a educação infantil, confesso que me encantei descobrindo a primeira infância e todas as oportunidades lúdicas de se trabalhar com as crianças desde tão pequenas. Estavam ansiosa para começar o módulo dos anos iniciais, pois imaginava que se era possível fazer tanto com crianças tão pequenas imagine com crianças maiores, com um entendimento maior.
Triste ilusão a minha. Descobri que quando uma criança passa da educação infantil (pré-escola) para os anos iniciais a "infância é praticamente sepultada". A Base Curricular (naquela época PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais) é tão carregada de conteúdos que sobra pouco tempo para a ludicidade. Me deparei com salas cheias de criancinhas que sentadas nas caideiras mal conseguiam tocar o chão com os pés, e lá "meio penduradas" em um assento desconfortável em salas abafadas com um ventilador de teto barulhento, se viam diante da difícil tarefa de por 4 intermináveis horas ter que aprender conteúdos que para a maioria delas não fazia sentido. Durante os 15 minutos de intervalo e as duas ou três aulas de educação física da semana eu via aquelas crianças correrem e gritarem com todas as suas forças, para gastar um pouco da energia acumulada, não havia interação de qualidade, pois no pouco tempo livre havia muita energia para extravasar e nitidamente essa era a prioridade.
Então entravam na sala vermelhos, suados, com sede, e sem fôlego e boa parte das crianças começava a pedir para ir beber água e usar o banheiro diante da frustração da professora
que simplesmente não conseguia entender porque não fizeram isso nos 15 minutos de recreio.
E em 2009 eu estava em crise... Eu ia para os estágios (em mais de uma escola, trabalhava em uma escola particular onde a realidade não era muito diferente). Eu escrevia meus relatórios de estágio que explodiam em críticas e o meu coração gritava em desespero... Não era isso que eu imaginava... Eu procurava respostas e ninguém me trazia essas respostas.
Foi quando o meu amigo, o que fez o TCC sobre homeschooling me procurou, me pedindo uma mãozinha. Como ele escrevia blogs sobre o tema de educação domiciliar, ele começou a ter contato com muitas famílias homeschoolers de todo o Brasil que entravam em contato com ele pedindo orientação ou ajuda.
Naquela ocasião, ele estava fazendo várias coisas quando uma família do Rio do Janeiro o procurou pedindo ajuda, pois haviam sido denunciados ao conselho tutelar por não enviar os três filhos para a escola. A família apresentou ao Conselho todo o material que estava usando para ensinar os filhos, ao que deram um prazo para essa família... Eles deveriam apresentar um embasamento teórico do porque optaram pelo ensino domiciliar e planos de aula oficiais com os conteúdos que estavam trabalhando. O problema era que aquela família não tinha formação acadêmica e não sabiam fazer planos de aula... E foi por isso que procuraram meu amigo pedindo ajuda. Como ele estava muito atarefado na época me pediu para ajudar. Eu disse que ajudaria, e, não fazia ideia de que aquilo mudaria minha vida para sempre...
Comecei estudando o tema da educação domiciliar, recuperando um pouco da história da educação
e transitando um pouco sobre a questão jurídica... Feito isso, aquela mãe nos enviou o planejamento que ela tinha para as aulas dos três filhos, com a descrição de como ela transitava no dia-a-dia pelas disciplinas com o aprofundamento de acordo com a idade dos filhos... Uau!!! Diante de mim eu encontrei as respostas que eu tanto procurava... Uma família, sem um plano de aula oficial, sem formação acadêmica, mas que conhecia as características de suas crianças e o que lhes interessava... Fiquei encantada com a forma simples e natural com que os conteúdos de português, matemática, história, geografia etc eram transmitidos àquelas crianças.
A medida que eu ia desenvolvendo o material para ajudar aquela família eu sentia meu coração palpitando forte no meu peito, com a certeza de que era isso que eu queria para os meus filhos quando eles viessem. Enquanto eu ia trabalhando nos planos de aula e nos documentos eu ia compartilhando com o Egly o que eu estava descobrindo e assim como pra mim a convicção veio de uma forma inabalável para ele também.
Naquela época já sabíamos que quando nosso primeiro filho chegasse eu não voltaria mais a trabalhar, porque nossas crianças não iriam para a escola. A Eliz nasceu em abril de 2012 e então começou a nossa incrível aventura como uma das milhares de famílias homeschoolers do Brasil.